HISTÓRIA CULTURAL - Setembro 2014


Foto de Jônatas David Brandão Mota.
HISTÓRIA CULTURAL I... Vamos agora nos reportar pra uma época muito anterior ao que possamos imaginar, tempos muito idos, além do que podemos vislumbrar, mas que respondem a muito do que somos, muito do temos e muito do que, por aqui, podemos encontrar. Vamos, agora, para o tempo da descoberta do Brasil, aquele passado onde todo registro era bravil, mas que também fez nosso rincão ser valente, e ao mesmo tempo, gentil. O que podemos saber daqueles momentos hostis, dá para compreender os históricos mais anteriores e servis, tudo que nos tem construído em nosso presente, no presente de nossos barris. Os tempos que Pedro Cabral aportou por esta banda, tem muito a ver com  os sonhos que atualmente o futuro nos manda, nos dando ares de grande confiança branda, que só os mais perversos conseguem ficar fora desta ciranda.


Foto de Jônatas David Brandão Mota.

Foto de Jônatas David Brandão Mota.
 Foto de Jônatas David Brandão Mota.Foto de Jônatas David Brandão Mota.
HISTÓRIA CULTURAL II... Nos tempos do Cabral, quando o Brasil era assumido pelos portugueses de além-mar, nesta região do monte Pascoal, onde a comitiva aventureira veio atracar; onde hoje se denomina o Extremo Sul da Bahia, povos indígenas por todo o litoral se distribuía, muito antigos brasileiros que por aqui, a um, vivia; eram muitos povos de muitas etnias. Índios irmãos, gente que já cuidava de nossa terra com sorriso, gente que por aqui já tinha paixão, conterrâneos que já construía nosso paraíso. Eram terras já ocupadas e defendidas, culturas vivas que já mostradas e arguidas, sempre foi suporte para o futuro que hoje desfrutamos em inspirações toadas e preferidas. Somos hoje, aqueles muitos indígenas desta terra promissora, terra que “em se plantando tudo dá”; somos a força que move nossa gente encantadora, gente que ama e promove este lugar.


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HISTÓRIA CULTURAL III... Por aqueles distantes tempos, por nossa região, a faixa costeira era ocupada pelos Tupis em seus acentos, o que eram chamados todos os indígenas por esta ocasião; o que, também, eram algumas nações de índios originadas da própria etnia tupi, em muito diferente de outras etnias, mas muito semelhantes entre si. Especificamente eram dos tupis, os Tupiniquins, nossos, também, ancestrais, nossos conterrâneos e vizinhos naqueles tempos atrás. Eram aldeias de mais ou menos quinhentos em malocas coletivas, com poligamia entre os principais. As mulheres nos afazeres domésticos, na agricultura e pesca, eram maestrais. Os homens derrubavam matas e preparavam o plantio em geral; construíam habitações, canoas, armas e ferramentas de trabalho; defendiam a aldeia e a religião medicinal. Eram antropófagos, mas, gente muito especial.


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HISTÓRIA CULTURAL IV... Saindo do litoral, por aqueles tempos de Cabral, no interior viviam povos soutos, os não-tupis como os Pataxós, Maxacalis, Botocudos, Puris e Camacãs, entre outros. Os Pataxós ("papagaios"), eram os mais próximos de nós, eram os mais tinhosos. Os Maxacalis (monacós ou kumanaxú ou tikmũ'ũn) eram grupos aparentados, falantes de línguas próximas; pequenas aldeias de famílias extensas em torno de seus líderes políticos e religiosos. Os Botocudos ou Aimorés com seus botoques nos lábios e orelhas, viviam da pesca, caça, coleta e pequena agricultura de subsistência. Os puris ou telikong ou paqui, chamados pejorativamente por “coroados”, por serem pequenos e fracos, sem nenhuma resistência. Os Camacãs e Mongoyos, valentes e destemidos eram o temor dos colonizadores daquele momento. Todos nossos ancestrais, nossos vizinhos de há muito tempo.


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HISTÓRIA CULTURAL V... Dentre muitos índios, dentre tantas tribos que nos antecipavam; dentre nossos ancestrais e vizinhos, muitos eram os aspectos culturais que os diferenciavam. Os Tupis, sempre fortes e resistentes, viviam próximos ao extenso litoral, e, por isto, desenvolviam uma grande e influente homogeneidade cultural; com isto, e por isto, em nossa região, como por onde estivessem pelo Brasil, viviam uma outra característica, da mesma forma, pela sua disposição guerreira, possuíam uma poderosa identidade linguística. Assim, os tupis, apesar de estarem divididos em unidades políticas quase bem autônomas, sabiam o momento propício para se juntarem na defesa de suas causas heterônomas. Estes eram um dos nossos vizinhos mais chegados, um dos  nossos ancestrais mais aclamados, primeiros donos de tudo que hoje  fazem esta cidade ter a beleza índia que tem.


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HISTÓRIA CULTURAL VI... Ainda cantando sobre os nossos distantes e quase esquecidos parentes tupiniquins, os tupis; orgulhosos índios moradores nesta nossa maravilhosa e rica região; nossos quase indomáveis vizinhos de muro, dispostos conterrâneos muito afins; gente embebida por este canto natural, com nossa meiga mesma paixão. Eram povos mais sedentários, que outros, nesta encantada terra da gente; valentes guerreiros vaidosos a quem foi dado o direito armado de escolher onde habitar; nativos harmônicos com toda a natureza que lhes era presente daquele presente; homens e mulheres culturalmente adaptados com a vida e as condições do lugar. Os tupis, nossos vizinhos e parentes teixeirenses; antigos moradores dos tempos do descobrimento; moravam em grandes aldeias, além do que se pense; com populações de mil a três mil pessoas em mesmo digno assentamento.


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HISTÓRIA CULTURA VII... Eles, os tupiniquins, nossos antecedentes por estes rincões; pela subsistência coletiva, praticavam a agricultura, com o melhor de seus bordões; eram excelentes no plantio, nas técnicas cotidianas que desenvolviam; plantar, cuidar e colher, para o interesse da tribo, nossos ancestrais convergiam. Todos cuidavam de tudo, pois tudo era dos cuidados de todos também; homens e mulheres se dedicavam quase voluntários, contudo; organizados socialmente nos benefícios que disto provém. Milho e mandioca, os principais produtos daquela agricultura modelar; alimentos que perduraram na produção de nossa terra, mesmo depois deles, no lagar; quando colonizadores, negros e outros selvagens chegaram e ficaram; quando muitos aventureiros foram se estabelecendo para provisão, para comércio, nestas terras, milho e mandioca, como antes, foi o que plantaram.


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HISTÓRIA CULTURAL VIII... Nossos conterrâneos, os tupiniquins, gente que nos antecedeu em muitos aspectos; por muitos considerados muito ruins, viveram no amor e cuidado com estas nossas terras de provectos; se manducavam principalmente da agricultura do milho e da mandioca, o que já vimos; e que completavam a alimentação com  o que a natureza disponibilizava aos seus tinos: com a pesca nos rios que até hoje nos dão de suas contingências e riquezas fartas; com caça que era muito abundante e variada entre os muitos animais selváticos que predominavam em nossas matas; e com a coleta de frutas, raízes e outros víveres produzida por nossa abastecida flora, comida nativamente produzida na imensidão de nossas florestas que já foram embora. Nossos irmãos tupiniquins, gente que esta terra conheceu, gente da gente que esta terra convenceu, como faz, também, tão bem, hoje, com todos nós.


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HISTÓRIA CULTURAL IX... Os grupos indígenas do interior, nos tempos do Cabral; eram chamados de Aimorés, aimbirés, aimborés ou botocudos pelos Tupis-tupiniquins em desprezo visceral. Não tinham unidade, não se assemelhavam aos seus mesmos, não se pareciam com seus iguais; eram vítimas do poder e intransigência das tribos litorâneas, como estratégia, nas redondezas, de se manter a paz. Por causa disto, eram linguisticamente heterogêneos, culturalmente distanciados; os tupis os transformaram em parentes desconhecidos e antagonizados. Havia paz, muita paz, os aimorés botocudos, se odiavam e se evitavam entre si; e todos, com os mesmos temores, se evitavam em relação aos guerreiros tupis. Nesta estrutura política bem definida, nossa terra de paz e progresso, nosso lugar de paraíso amado, desde aqueles tempos áureos e distantes, tem existido sem muito sangue derramado.


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HISTÓRIA CULTURAL X... Nossos vizinhos Aimorés botocudos, gente do interior, a partir de nossas terras; não respeitados, desorganizados, meio embrumados, complicados que eram, viviam de suas próprias emperras. Costumavam organizar-se, para viver e morar, em pequenos e fracos bandos; o que os faziam ainda mais fracos, ainda menos respeitados, subservientes para outros os protegerem dos muitos e invariáveis vândalos. Formavam-se de algumas famílias, por aldeia, não ultrapassando cem pessoas; mesmo sendo inúmeros por toda parte, não conseguiam unidade, não conseguiam, entre eles, convivência boa. Viviam à margem da sombra presencial dos tupiniquins no litoral, estes, para se protegerem, mantinham uma larga área de proteção regional, e muitos grupos destes nossos vizinhos eram beneficiados, não sentindo necessidade de conveniências belicosas, ou mesmo parental.


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HISTÓRIA CULTURAL XI... Nossos vizinhos Aimorés botocudos, por várias circunstâncias favoráveis ou não; mudavam de local, de morada, a cada tempo agrícola, a cada chegada do verão. Em pequenas aldeias, saiam em busca de terras desocupadas e produtivas, lugares que pudessem morar e plantar; não iam muito longe, ficavam nas redondezas, sob os olhares, proteção e domínio que os tupiniquins podiam lhes ofertar. Mesmo com tantas idas e vindas, precisando de terras descansadas e férteis, nossos itinerantes primeiros ancestrais, eram das tribos sabidas, longe de serem inérteis, que se desdobravam em serem laborais no cuidado e proteção dos lugares por onde passavam, como tais. Os tupis ganhavam com isto, na ronda que aqueles faziam, ocupavam os espaços que lhes davam segurança, afastavam inimigos chegados às guerranças, e todos viviam em paz aproveitando as melhores abastanças.


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HISTÓRIA CULTURAL XII... Nos tempos do Cabral, conversando sobre nosso passado parental, sobre esta nossa terra ancestral; os Aimorés botocudos, em seu estilo de vida quase nômade em tudo, sobreviviam em limitada cultura, com a caça e a pesca como mais importantes que a agricultura. Para ser mais fácil de mudar de lugar, o que dificultava entrar no ciclo do colher, cuidar e plantar. Diferentes dos tupis instalados em enormes contingentes, no melhor da região, onde viviam, plantavam, colhiam e se desenvolviam; os índios do interior se desmanchavam em pequenos grupos sem união, que viviam de buscas de melhores espaços de colheita e pesca onde, por algum tempo, se acomodariam. Eram assim, uns e outros, por toda este imenso território onde Teixeira de Freitas hoje se agrega; eram assim, nos tempos antes do chamado “descobrimento” trazer uns “diferentes”, como nós, quando a indiada se entrega.


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HISTÓRIA CULTURAL XIII... Com a chegada dos europeus, nossos outros irmãos, invasores; nossos ancestrais de bem longe, nossos parentes portugueses;  com o tempo, foram alteradas muitas situações e valores; os legítimos moradores se tornaram fregueses. A presença dominante de uma nova postural cultural, mais que os tupis tupiniquins do litoral, interferiu nas relações pessoais daqueles que por aqui viviam, nas relações de poder entre as aldeias que por aqui existiam, na distribuição espacial dos indígenas do lugar, interferiu até na sobrevivência coletiva dos que sempre por aqui estiveram a habitar. Agora, novos ancestrais nossos, surgem no cenário, e a nossa terra sente a diferença, e o nosso ambiente natural sente a convergência, o nosso habitat sente aquela intrusa contingência. Em pouco tempo, depois de longo período de jeitosa harmonia, tudo muda, os ares agora são outros, a vida agora, ao mundo, está desnuda.


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HISTÓRIA CULTURAL XIV... Com a chegada dos europeus, nossos outros irmãos, invasores; as gentes que vieram de outros continentes mais longe; mudanças tiveram que acontecer pela imposição dos ofensores; diferenças até com uso, pregação e atuação de monges. Entre as inovações que o novo momento se fez obrigado a impor; pela força das armas, das boas vindas, do presente, da doença e do novo a se compor; a reposição demográfica, o achegamento de massas em seus acampamentos “civilizatórios” que parecia beneficiar todo mundo, traz consigo e de forma inusitada, um desastre profundo; transformação que, principalmente, geraria todas as outras mudanças, naquele período, atuais; um avalanche de condicionamentos promovedores das mutações em todas as características culturais. Os ancestrais de longe roubaram, desde aqueles tempos, é certo; o ser ancestral daqueles que moravam por perto.


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HISTÓRIA CULTURAL XV... Nos tempos após a chegada europeia, quando os portugueses se registravam como detentores de nossas terras descobertas; como autênticos colonizadores que eram, conquistadores inveterados por implantar o conveniente aos interesses nestas terras ditas abertas; instalaram núcleos de ocupação do território sempre ocupado pelos índios dos nossos contextos; foram impondo domínios nos espaços que pareciam não serem de ninguém. Foram se fazendo presentes nos arredores das aldeias, com os mais infames pretextos, foram apertando a liberdade dos nossos primeiros ancestrais nativos, sob a bandeira do bem. A princípio, tudo era em caráter provisório, eram o cão marcando  o que acreditava ser seu novo território;  aproveitando o pensar indígena que nada era de ninguém, e que tudo poderia, harmonicamente atender às necessidades prementes de qualquer porém.


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HISTÓRIA CULTURAL XVI... Naqueles tempos após Cabral, no cotidiano de nossos ancestrais vindos e nativos; os núcleos de ocupação estavam sendo implantados pelo litoral; por entre as aldeias, aquelas menos resistentes, sem improvisos. Os primeiros locais foram basicamente, um em Porto Seguro, como central; entendido como favorável à disseminação dos núcleos por todo o extenso litoral; depois, então, como para o interior. Para o território especificado no Tratado de Tordesilhas, entre Portugal e Espanha; aquele era realmente o melhor lugar para uma invasão solidificada em campanhas. O outro primeiro núcleo de ocupação, por sua vez, foi em Caravelas, onde até hoje vivemos a influência de seu progresso, talvez. Teixeira de Freitas e a região foram muito beneficiadas com aquela furança; se considerarmos a presença portuguesa já valorizando e propiciando as terras que nos deixaram de herança.


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HISTÓRIA CULTURAL XVII... Nos tempos Pós-Cabral, na estratégia de dominação, os núcleos tinham importância cabal, para os nossos ancestrais de longe, auferirem a ocupação. Atendendo às exigências da religião nacional, à proliferação europeia, a visão do Vaticano global, e aos tratados das descobertas divididas com a Espanha, nesta epopeia; a benevolente Portugal, nos núcleos que foram edificados por entre as aldeias já estabelecidas então, construiu capelas, a presença católica da boa intenção. Diziam: Os nativos precisavam de civilidade e salvação, as novas terras deveriam ser resgatadas do paganismo, e os conceitos do cristianismo nas almas de todos era premissa essencial para se levar, aos nativos, a civilização. Assim, cada capela se tornou um centro cultural religioso a vigorar; sempre disposto a suplantar todas as demais culturas permeadas pela “idolatria ignorante” dos indígenas do lugar.


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HISTÓRIA CULTURAL XVIII... Nos tempos que chegaram nossos familiares europeus, nosso distante parental; quando suas presenças impositivas já se faziam notar no cotidiano indígena do momento; os invasores, nos núcleos de ocupação, distribuídos, inicialmente ao longo do litoral; estabeleceram centros de administração, pontos responsáveis pela interiorização do “descobrimento”; e, nos espaços “conquistados”, fortalecer o devido domínio de Portugal. Era, para tudo isto, muito comum o estabelecimento, também; de postos avançados em todos os vários lugares já chegados, para o armazenamento de madeira e fortificações; no objetivo de proteger os chegantes portugueses dos ataques dos rebeldes nativos; e até dos franceses e holandeses que já conheciam, de antes, aquelas possessões; que sabiam das terras e das suas muitas riquezas, fazendo-os piratas ativos; e, assim, se achavam no direito de exercer legais dominações.


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HISTÓRIA CULTURAL XIX... Depois dos primeiros tempos, quando nossos parentes brancos já haviam chegado para o chamado “descobrimento”; durante o estabelecimento dos muitos núcleos de ocupação, quando o intuito era o domínio consciente de toda a população; os índios Tupis-tupiniquins, os donos de nossas terras de hoje, aqueles que viviam próximos ao litoral; os que eram guerreiros, valentes, destemidos, os principais detentores da nossa herança parental; estes logo foram “civilizados”, ou seja, foram logo subjugados pelos portugueses; deles foram roubados a cultura, as terras, a lavoura, a vida, estes logo foram mutilados, ou seja, dos invasores sutis, logo se tornaram fregueses. Para isto, nossos parentes de longe, usaram todos os apetrechos necessários e violentos; para que, como colonizadores, pudessem ser atendidos seus intentos; em favor de uma coroa sedenta de poder e riquezas, com domínio sangrento.


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HISTÓRIA CULTURAL XX... Nos tempos depois do descobrimento; completando a invasão que Portugal entendia ser seu direito; tudo a partir do acordo feito com a Espanha e o Vaticano para aquele momento; se utilizando dos núcleos de ocupação, com ajuda a seu proveito; e sob a bênção e interesses da Igreja Católica nos seus proventos; através de ordens religiosas, como os temíveis jesuítas e seus preceitos; sob, cristianizar estes povos, o que era um bom argumento; os índios foram subjugados juntamente com suas vidas, seus bens, sua cultura e toda a dor; bem como com a vida na natureza que sempre esteve ao seu dispor. Tendo tudo isto a sua mercê, dentro dos escrúpulos de sua  então, civilidade; os indígenas, de Portugal, escravos passaram a ser; nossos parentes nativos, como objetos sem liberdade. Nossa terra vivenciou esta memória, nossas redondezas foram palco desta atrocidade, contra nós e nossa história.


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HISTÓRIA CULTURAL XXI... Naqueles tempos de outrora, quando nossos parentes brancos chegaram da Europa; quando impuseram que toda cultura nativa fosse embora, usando até a bondade da religião como bagagem de tropa. Nossos parentes vermelhos, que aqui habitavam; afastados de tudo e de todos que os milênios lhe comungavam; sofreram, entre outros muitos infortúnios; pelo contato com os colonizadores infames e tão primeiramente simpáticos; o contágio de doenças aos portugueses oportuno; mas aos nossos parentes sofridos e mal visitados, resultado lunático. De todas formas, as populações indígenas passaram a sofrer com varíola, sarampo e gripes; passaram a conviver com vícios, malogros e maus estirpes; passaram a se envolver com decepções, impetrações e acepipes. Mais frágeis ficaram, mais dependentes se apresentaram, mais escravizados se mostraram, mais carentes de cuidados e senhorio se ofertaram.


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HISTÓRIA CULTURAL XXII... Depois que nossos ancestrais brancos chegaram em contra-mão, quando atuaram contra tudo e todos que impediam seus domínios territoriais; quando usaram de tudo e de todos para plantar o que diziam ser a civilização, forçando o que descreviam ser seus melhores mananciais. Em pouco tempo já se notava a mudança espalhada por todos os cantos do lugar; em pouco tempo já se mostrava a desgraça empalhada que o além mar trazia para em nossas terras plantar. O nosso chão e a nossa gente nativa tornou-se enferma em muitos sentidos; os invasores, nossos parentes de longe, assumiram papeis mais severos e atrevidos; e destruída foi a cultura e a identidade étnica dos nossos índios por aqueles que usaram até a religião como carrascos assumidos. Primeiro de todos, foram os nossos Tupis, os tupiniquins do nosso litoral; os guerreiros de outrora, protetores dos interiores, foram sucumbidos ao papel serviçal.


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HISTÓRIA CULTURAL XXIII... Depois que nossos avós europeus chegaram; enquanto aprimoravam as investidas para a dominação completa do “descobrimento”; primeiro, e sem muita da resistência que esperavam; caíram ao poder sedutor e bélico-religioso, os índios valentes do antes daqueles momentos. De uma forma ou outra, por uma ou outra maneira estonteante; os portugueses venceram os nossos avós nativos do litoral; foram, um a um, sucumbindo diante do poder chegante; iam sendo conquistados, dominados e até domesticados, como se faz com um animal. Coube aos indígenas do interior; aqueles fracos, submetidos, distribuídos em pequenas aldeias andarolantes;  oferecer resistência à dominação, no momento posterior; quando a estratégia era ampliar a invasão dos brancos chegantes. Protegendo nossas terras, guardando nossa cultura anterior, foram os frágeis e caçoados botocudos quem deu resistência aos temíveis navegantes.


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HISTÓRIA CULTURAL XXIV... Chegados os europeus, nossos avós brancos, e, iniciadas as estratégias de consolidação de domínios aos fregueses; logo os índios mais valentes, os tupis tupiniquins de nosso litoral, aos bandos; foram se rendendo, foram se entregando ao convívio colonizador dos portugueses; ao contrário de nossos irmãos vencidos; os  outros nativos do interior, declaradamente aborrecidos; se mostraram, diferente de antes, nada em nada inferior. Resistiram, assumiram defender nosso torrão e nossa cultura atacados; ante a imposição dos europeus arrogantes;  Se organizando em ataques devotados e inesperados; principalmente aos povoados dos invasores, assaltos constantes. Foi assim por toda as terras tordesilhadas de Portugal; por um bom período de tempo, enquanto os domínios eram consolidados a todo mal; os ancestrais que antes eram os valentes “do pedaço”, escravizados; e a brasilidade manifestada pelos ex-hostilizados.


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HISTÓRIA CULTURAL XXV... Nos tempos da consolidação da descoberta de nossas terras, com nossos ancestrais brancos dominando vermelhos escravos e sendo atacados pelos vermelhos insurgentes; nossa região era o retrato da colônia que a história nos encerra; um ambiente de revolta e tentativa de liberdade contra os intrusos emergentes. Os confrontos sangrentos entre índios amotinados e não índios se repetiram ao longo de todo um tempo; o que não impediu a maior presença de Portugal com nosso lugar; o que não atrapalhou a chamada civilização branca religiosa em nenhum momento; o que não foi suficiente para evitar que mais e mais europeus assumissem as terras que não eram deles, a cá. Estes embates frequentes, insignificantes, muitas vezes sangrentos, duraram até o final do século dezenove; quando já, quase, não havia índio guerreiro ou índio escravo; não, quase, havia mais índio para ser, pelos brancos, chamado de civilizado.


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HISTÓRIA CULTURAL XXVI... Naqueles tempos da injusta imposição; dos nossos irmãos europeus sobre habitantes nativos, nossos irmãos; motivados pela necessidade da dominadora ocupação; no território tordesilhado da Terra de Santa Cruz; após a coroa colonizadora perceber a riqueza da agroindústria açucareira que desenvolver; explorando ao máximo ao máximo, a mão-de-obra disponível e de graça a lhe prouver. Para sobreviverem, indígenas se submeteram, outros fugiram, outros se rebelaram e outros guerrearam. Nossos ancestrais “descobridores”, se dizendo donos de tudo e de todos, produziram riquezas sustentadoras da coroa e seus herdeiros gastadores. Nossos ancestrais invadidos e humilhados em suas vidas, culturas, terras e valores, passaram a ser dizimados pelo trabalho pesado, ou pelas doenças trazidas como flores; pelas armas e emboscadas que os tratavam como selvagens; pelos civilizados que os tratavam como rebeldes em suas bobagens.


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HISTÓRIA CULTURAL XXVII... Os primeiros tempos de nossa história, éramos só “nóis” e nossa terra amada; éramos só nossa gente e nós mesmos, com nossa terra do nosso jeito; nossos segundos tempos, já não éramos só “nóis” em nossa estada; outros, de longe, chegaram e se fizeram donos, colonizaram em seus, entre eles, acertos. Nesses segundos momentos de nossos Brasil particular, nosso mesmo; quando os índios, nossos irmãos, nossos ancestrais estavam sendo dizimados ou escravizados com lampejo; o mercado de escravos africanos estava em preços elevados; o próprio Portugal fornecedor, não conseguia comprar diante da fome escravocrata dos brancos civilizados; e, a única solução para os interesses colonizadores das Terras de Vera Cruz, era a captura e a servidão dos povos indígenas, aqui, encontrados. Foi deste jeito, sem tirar nem por, que a nossa região e todo o Brasil foram construídos: no roubo das terras, da cultura e da vida de nossos pais extinguidos.


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HISTÓRIA CULTURAL XVIII... Naqueles segundos tempos do que, na pele, nos aconteceu; com os ancestrais chegantes de longe, no domínio de tudo; e os ancestrais nativos sofrendo na pele, o “pereceu”; nossas terras aqui, sofria o mesmo que as terras próximas ou distantes dos mesmos nativos mudos. Tem-se registro que um oficio assinado pelo subdelegado de policia do Prado; isto a outro dia atrás, no século XIX, em seu meados; mostrando o “civilizado” costume de envolver "índios mansos", mesmo assim, com estes dizeres; nativos que podiam ser levados pelo interior a dentro, em muitos escravos-afazeres; eram levados, tanto nas expedições, chamadas Entradas, de iniciativa do governo português; como também as Bandeiras, de iniciativa privada de bandeirantes com muita intrepidez; ambas iniciativas, que saiam em busca de conquistas de novos territórios dominados, ou de riquezas em aglomerados; exploraram duramente os verdadeiros donos de tudo que roubaram.


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HISTÓRIA CULTURAL XXIX... Naqueles macabros tempos do pós descobrimento; quando nossos ancestrais de longe chegaram para nos fazer cativos de seus interesses e atrocidades religiosas; “Índios Mansos” eram duramente usados nas mais variadas expedições pelo interior das terras dordesilhadas do momento; chãos que Portugal ganhara na caneta dos acordos entre Espanha, Vaticano e pazes falaciosas. As expedições, com todos os espíritos frustrantes aos nativos; os verdadeiros donos de tudo que estava sendo tomado e abusado sem atrativo; eram Entradas e Bandeiras, todas, essencialmente em seus objetivos e pretensão; buscavam conquistar novos territórios e capturar novos indígenas à servidão. Nossos pais nativos pagando caro pela riqueza que tinham; com suas próprias vidas e liberdade, satisfazendo a ganância devotada que os chegantes traziam. Muito daquele sangue, sacrifício e peita; foi espargido sobre as terras que somos e construímos com a beleza de Teixeira de Freitas.


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HISTÓRIA CULTURAL XXX... Em 1500, chegam nossos pais europeus com muita fome e sede de poder, riquezas e expansão; chegam de navios cheios de gente de toda espécie, até degredados bastardos que vinham por liberdade maior para suas fúrias criminosas e corrupção; uma invasão de todo tipo de males e maldades que o lixo europeu poderia produzir no distante cantão. Estes são os nosso pais brancos, tudo que nossa sociedade despreza e abomina com dor; são estes tipos, ou grande parte deles, que descem em nossa terra como dominador; os homens que traziam armas e a força da ganância para obrigar nossos pais nativos à submissão, em nome da paz que diziam trazer, da amizade que diziam fazer, da fé que diziam conter na religião. Era a civilização que chegava com todo um aparato injusto, opressor, mentiroso e profundamente explorador... nossos ancestrais nativos caíram neste vil, e esta nossa terra amada, como todo os cantos pelo Brasil, viveu na pele a mesma dor tramada.