Outubro 2014... O RIO ITANHÉM


Foto de Jônatas David Brandão Mota.

O RIO ITANHÉM I... Há um rio que tem tudo a ver conosco, em ligações estreitas; o rio Itanhém, “Prato de Pedra” para os nativos; graças a ele “os pioneiros” chegaram à região que hoje está Teixeira de Freitas, graças a ele vinham atraídos por sua pujança e atrativos. Em sua longínqua história muito bem contada em graça, o rio supria falta de estradas que cruzassem a imensa e rica região, supria a ausência dos caminhos até a região de Alcobaça; importante e progressista cidade da nossa vizinhança, do nosso chão. Por volta de 1817, naquela difícil ocasião; quando o príncipe Maximiliano, da Alemanha, veio aos nossos pisos; navegava por este nosso formoso rio anfitrião; observou a presença de nativos, a riqueza natural da região e negros escravizados festeiros trabalhando como canoeiros. Desde o início, o rio tem sido nosso belíssimo cartão postal; tem sido também os melhores caminhos para chegar a nós; nos apresentando aos trazidos por Cabral; nos dando acesso ao mundo logo após.

Foto de Jônatas David Brandão Mota.

O RIO ITANHÉM II... Na carta topográfica do Mucuri e além; mapa de 1859 em seus dias; registros que mostram a região do vale do Itanhém; naquele final de década arredia. Informa ela, que, onde hoje está a cidade de Teixeira; não havia, “trelas” nativos habitando em clareiras. Há, também, registros naquele mapa; de algumas tribos ao longo do rio; na altura das terras mineiras “in lapa”; informações completas com pouco perfil. A carta topográfica que, a região, abraça, gravura o conteúdo de seus registros; o rio é identificado pelo seu topônimo Alcobaça; um território de riquezas e sinistros. Até a década de 1950; andar ou chegar ao território que hoje é Teixeira de Freitas; era uma tarefa difícil e demorenta; eram espaços fechados, um mata muito estreita. Coberta pela floresta atlântica frondosa; matas e brejos que se faziam tapumes; só era possível alcançar o vale através de trilhas perigosas; por dentre as brenhas e os cumes; ou, melhor, pelas águas navegáveis e receosas; dos aprumes, no nosso rio Itanhém.

Foto de Jônatas David Brandão Mota.

O RIO ITANHÉM III... Não muito tempo atrás, pelas décadas da primeira parte do século passado; navegação era á primeira e principal opção dos moradores das pequenas comunidades rurais em nossa região; o rio era como muleta boa, a ajuda mais fluente disponível para qualquer pessoa; o rio era a estrada em plano, na falta de estradas para o comércio interiorano. O meio de transporte para todo carregamento de gente ou mercadoria, de mudanças ou outras necessidades que se teria, as canoas eram o jeito mais utilizado pessoal; eram elas que percorriam toda extensão do rio até a cidade de Alcobaça no litoral. Esse papel, o rio fez muito bem, a canoa fez também, e, mesmo em muitas limitações que sofriam as populações; havia, de gente e coisas, de um lado para outro, uma intensa circulação; trazendo e promovendo o desenvolvimento de cada canto de nossa imensa região. As pessoas sabiam, muito bem, fazendeiros ou não, de todas as idades; utilizar do rio e das canoas, para fazerem suas vidas acontecerem sem maiores dificuldades.

Foto de Jônatas David Brandão Mota.

O RIO ITANHÉM IV... Antes dos anos sessenta, no vívido século passado; olhos para conhecer Teixeira, se atenta; fica cauto ao que lhe é registrado; a rotina daqueles tempos; em que o rio era a melhor opção para chegar ao litoral; prevalece marcada nas lembranças de antigos moradores com seus eventos; muitos que cresceram na região, na área rural; nestes lugares de muitos proventos; que hoje fazem parte deste nosso amado espaço municipal. Na década de 1950, no que nos é instruído; o rio, como tantos e tantos por aí; não era o que consideramos poluído; e havia expressiva variedade de peixes e outros tipos de vidas afins. Viviam e cuidavam desses territórios naturais; diversas famílias negras sem desvarios; eram distribuídas por várias propriedades rurais; habitavam ao longo do percurso do rio; como era o caso da fazenda Nova América. Assim, com muito orgulho e presteza; podemos afirmar com calentura; que nós, os índios expulsos de nossas terras, com dureza; fomos substituídos por nós, os negros, com brandura.

Foto de Jônatas David Brandão Mota.

O RIO ITANHÉM V... A Bahia, por volta de 1950, no seu mapa provinciano; era um Estado agrícola parcial; a capital, Salvador, era uma metrópole de vasto espaço inurbano; e, ao mesmo tempo, pobre no seu mundo rural. Revelava, assim, essa fraqueza inóspita e a se impetrar; e também se fazia responsável pelo atraso de outras regiões rurais em sua incapacidade de se modernizar. Até meados do século XX; o extremo sul, onde hoje está nossa cidade querida; era o lugar na qual existiam homens de sonho e requinte; nomes determinados e livres em livre terra enriquecida; lugar que oferecia, a todos, vastas vantagens; sem preocupações recorrentes a outras paragens. Éramos uma sociedade emergente de pequenos produtores sem intrâncias; de posseiros tomados pelo anseio de apenas viver sem tantas extravagâncias; ou de camponeses afastados das correrias das cidades e pescadores atendidos por toda miséria e diversidade; todos que viviam da produção familiar para o consumo dos seus ou de um comércio de amenidades.

Foto de Jônatas David Brandão Mota.

O RIO ITANHÉM VI... Segundo testemunhos da década distante de 1950; muitos dos moradores das fazendas, nesta nossa região; viviam vida modesta baseada na agricultura que suas propriedades se fizessem farturenta; e também da pesca rica que o rio podia oferecer do seu pregão. Dedicavam-se também à pequena pecuária; até onde se podia ir com o gado que possuíam; à criação de galinha, muitas vezes para a deglutição ordinária; e o comércio pelas feiras livres das redondezas, por onde iam. Além disso, quase todos criavam animais de transporte, como jegues em um número maior; mulas em número menor; e alguns poucos cavalos. Os porcos eram criados muito inadequadamente; para serem comerciados na cidade de Alcobaça; eram vendidos nos dias apropriados para o comércio de rua, estritamente; depois de levados de canoa pelo rio, com mordaça; e, na maioria das vezes para muitos criadores de então, levados por pequenas trilhas pela mata em um dia inteiro de viagem, cortando a região.

Foto de Jônatas David Brandão Mota.

O RIO ITANHÉM VII... O peixe, nas muitas variedades daquele tempo; fazia parte da dieta das comunidades rurais; não só em nossa região e nosso acento; como em outras tantas além dos murais. Na fazenda Nova América; a exemplo de muitas outras que existiam ou estavam se formando no mesmo porte; a captura de peixes no rio era realizada na breca; em todo o tempo, e indiscriminadamente, na sorte; sem nenhum critério, cautela ou acepção de merreca. Porém em setembro e outubro de todo ano, o dilema; a pesca mudava a rotina geral em caquete; porque era o tempo da primeira Piracema; chamada, pelos pescadores, de “Ripiquete”. Até a década de 1960; o período da piracema era festejado por todos; era um motivo a mais para fazer esquenta. O nosso rio era convite aos de fora, e alegria aos de dentro da nossa bairrança; nos levava embora, e era quem alimentava os de dentro com muita festança; levava o que éramos a bem do mundo, e trazia o que de lá, nos faria, para lá, fecundos .

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O RIO ITANHÉM VIII... Na piracema do cio, quando os peixes estavam agitados e aglomerados por todo o percurso do rio; vinham pessoas das matas, dos povoados distantes ou não; vinham de Santo Antônio, Lavra, Pichichica, fazenda Cascata e outros tantos cantos de nossa região. Vinham pescar durante dois dias nas águas fartas. Mais ou menos cinquenta a cem pessoas, participavam da pescaria de três meses não consecutivos, muitos em suas barcas. O primeiro Ripiquete no rio Itanhém ocorria no mês das águas, entre setembro e outubro. O segundo Ripiquete, acontecia durante a cheia de Natal. E o último ripiquete entre março e abril, no tempo turvo. Nestes meses se pescava peixes como, entre outros, Crumatã, Piabinha, Piau. A região tinha, ainda, muitos limites para uma boa comodidade de seus habitantes; mas, em contrapartida, possuía muitas riquezas compensatórias que fazia com que todos convivessem e se desfrutassem mutuamente; uns ajudando os restantes, superando as dificuldades prementes.

Foto de Jônatas David Brandão Mota.

O RIO ITANHÉM IX... Nas festanças dos ripiquetes anuais, pelos anos de 1950, no mês de maio se pescava quantidades colossais; deixava todos os envolvidos em cestos que se arrebenta. Capturava-se, entre outros, peixes como, Sabanga pequeno, Judeu, e Mandi. Testemunhos dizem que a quantidade de peixe pescado era grande demais por aqui; então, se salgava e secava no sol e guardava para, durante o ano, o consumo em fim. Da mesma forma, o peixe fresco, para consumo da semana, era colocado em palha de bananeira. A ova do peixe, chamada caviar, era salgado ou torrado e guardado na partileira; quando precisava alimentar batia-se no pilão e fazia a moqueca em passoqueira. No caso do peixe Mandi, diz testemunhas, tinha-se que secar no sol ou nos fornos em oca; para ser consumido durante a colheita do café, misturado com dendê e farinha de mandioca. Durante o ano, era fartura para famílias de toda a região; motivo de festa para sempre se encontrarem às margens do rio em nosso rincão.

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O RIO ITANHÉM X... Nos Anos que se passaram; o rio sempre serviu para enriquecimento das terras e plantações; para o transporte das gentes e das coisas que precisaram; para a pescaria das muitas variedades de peixes aos montões; e para as necessidades das famílias ribeirinhas ou não, que nele se refugiaram. No rio, as lavadeiras utilizavam as águas para lavar as roupas, vasilhas e os pertences caseiros; para o banho delas, dos filhos e da família caso houvesse um ribeiro próximo e maloqueiro. Para o consumo das famílias no certo; água de beber, era de qualquer nascente que estivesse por perto. O rio fazia parte da vida de cada chão, mesmo das casas que não fossem tão perto nele. Era o fator de integração para toda a região, as cidades e povoados ganhavam muito pela existência dele; que corria indistinto, sem parar; integrando-se com outros rios, até chegar ao mar. Até hoje, para boas particularidades, o rio guarda marcas deste tempos de grande importância para todas as comunidades.

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O RIO ITANHÉM XI... Em 1968, em seu correr cotidiano; o rio tomou uma proporção que jamais será esquecido. Inundando cidades do Noroeste mineiro e do extremo sul baiano; a grande enchente causou diversos transtornos e peitas, com nada parecido; à cidade de Medeiros Neto e ao povoado de Teixeira de Freitas. Naquele tempo e por causa das proporções da enchente; quatro mil pessoas ficaram desabrigadas com o repente; por ter atingido muitas cidades sem prontidão; municípios no vale do Jequitinhonha; e também, lugares em nossa região; cidades e povoados próximos à fronteira nesta peçonha. A fúria do rio, entre nós, provocou apavorante destruição; atingiu Medeiros Netos, Itanhém, e Alcobaça; atingiu a zona rural do povoado de Teixeira de Freitas com toda sua plantação; causando danos a infra-estrutura local com muita ameaça. A grande enchente veio e fez seu enorme estrago; e por alguns meses, as cidades sofreram para se reorganizarem dos prejuízos daquele mal afago.

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O RIO ITANHÉM XII... Aquela grande enchente de 1968, que não foi só na nossa região; tomou contar dos noticiários de jornais de todo o país. Bahia e Minas Gerais ficaram irmanados pelo sofrimento da população; pela busca de socorros e soluções que se quis; e pelas informações que cobriram todos os demais Estados vizinhos ou não. Juntos, por tudo aquilo, os governos municipais, estaduais e nacional; eles se mobilizaram, como puderam, irmanados, de muitas formas; para atender à contingência de necessidades que brotaram por todos os lados nas áreas atingidas pelo longo temporal. Nossa extensa e bela região, em especial; foi muito bem levada, em seus problemas, por todas as notícias vinculadas às tragédias que se sucediam; tragédias originadas na invasão do rio por todas as suas margens e beiral. Simplesmente, o rio, saiu de seu leito e veio produzir vítimas com sua agressão atemporal; gentes não acostumadas a tudo aquilo de um rio invasor por todos os lados de sua jornada natural.

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O RIO ITANHÉM XIII... Na grande enchente de 1968; mais de 500 casas foram totalmente destruídas; 5 mil pessoas desabrigadas pelo afoito; tarefas telefônicas e de urbanização obstruídas; lavouras em esgoto e a quantidade de mortos ainda não concluída. Este foi o balanço da catástrofe que se abateu sobre os municípios em nossa região. Medeiros Neto foi parcialmente destruída pelas águas daquele rojão; águas que subiram 6 metros acima de seu nível normal; embora a cidade não tenha visto nenhum temporal. Quando a região mineira do Jequitinhonha foi inundada; a cidade sofreu os efeitos da tromba d´água; e, como o rio divide a cidade em duas partes, a destruição alcançou grandes proporções, remexeu baluartes. Aqueles momentos foram inesquecíveis, até o hoje em dia; não só para aquela cidade amada e contígua de nossa Teixeira; mas, também, para a nossa região inteira. Solidários com a dor dos conterrâneos, participamos nas ajudas que receberam naquela situação rasteira.

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O RIO ITANHÉM XIV... Na catástrofe de 1968, que nos abateu; com o grande transbordamento do rio, por seus percurso imparciais; mais de 520 casas foram totalmente destruídas, tudo soverteu; inclusive edifícios públicos e lojas comerciais; trazendo grandes prejuízos aos municípios e suas gentes; deixando um terço da população, com famílias, ao desabrigo carente. Além da nossa querida vizinha Medeiros Neto, que foi muito prejudicada; também a nossa mãe, Alcobaça, foi bastante atingida pela enorme enxurrada. As duas cidades foram como fronteira medonha; com a região do Vale do Jequitinhonha. Pelo rio Alcobaça, nos dois municípios, foram 14 pontes destruídas completamente; e 120 casas derrubadas ao chão; o que representou um prejuízo estimado de em mais de 1 milhão de “Cruzeiros Novos” recentes; esta notícia varreu o país nos principais meios de comunicação. O Brasil todo passou a ter atenções, de alguma forma, conosco; com nosso choro, dores e preocupações.

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O RIO ITANHÉM XV... Naquele 1968, todas as cidades no caminho do nosso rio pereceram; bem como todo o trajeto de propriedades na região; tudo e todos que sempre se beneficiaram das riquezas que as águas sempre ofereceram, estavam agora jogados na mesma situação; de penúria, de desencanto, de frustração e prejuízos, os municípios feneceram; inclusive de vidas animais e humanas em contra-mão. Assim foram outros rios ligados ou não ao Itanhém. Estas informações chegavam a toda nação; e todo dia, naqueles dias, novas notícias, alarmava mais ainda, o que estava acontecendo em nossa região. Para o Brasil, o que maltratava Medeiros Neto era o retrato fiel do que afligia toda a região extremo sul da Bahia; e, o que acontecia no Vale do Jequitinhonha e mais, era o retrato do que se sofria na região próxima, já nas Minas Gerais. Uma das notícias afirmava que a FAB, força aérea Brasileira, socorreria os milhares desabrigados de Minas e Bahia. Esse foi um calvário que nunca mais se veria.

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O RIO ITANHÉM XVI... Naquele 1968 muito triste nos anais; o serviço de busca e salvamento da FAB, é o que se diz; recebeu comunicado da secretaria de saúde de Minas Gerais; informando que duas mil pessoas estavam isoladas em Machacalis. Corria a informação que tudo havia se agravado com a enchente em Medeiros Neto. Subira a mais de cinco mil, as pessoas desabrigadas em todo o trabuco. As primeiras providências do socorro às vítimas naquele desafeto; foram tomadas pela equipe de salvamento vindo do Recife em Pernambuco. Havia sido montado um posto avançado no aeroporto em Caravelas; de onde partiam as missões de socorro abrangência. O objetivo era levar ás famílias desabrigadas nas querelas: os necessários remédios e soros pedidos com urgência. Era uma catástrofe somente; não só para quem ouvia tais informes do que havia; não só para quem se mobilizava nas ajudas necessárias e urgentes; mas, para tantos que sofria diretamente, tudo que acontecia.

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O RIO ITANHÉM XVII... Em 1968, no quase natal; os jornais noticiaram que a febre tifoide era algo novo em todo o transtorno; uma doença infectocontagiosa na água doental; que ameaçava as cidades atingidas pela grande enchente em seu contorno. Naquele momento da catástrofe, onde havia; a febre tifoide, em novo e grave perigo se constituiu; ameaçando o Vale do Jequitinhonha e a Bahia. Em Minas Gerais era fato que a secretaria de Agricultura já admitiu. O número de pessoas atacadas pela enfermidade aumentou em ritmo alarmante. Assim, aumentava todas as preocupações; o incidente natural estava preocupante a partir daquelas inundações. As gentes que já estavam em perigo e abandono, desabrigadas e carentes, triplicaram suas necessidades, quando esta enfermidade passou a fazer parte de seus sofrimentos. O rio de tantas alegrias e sustento, agora era o grande vilão, o responsável por tantas dificuldades com aqueles que viviam o tormento, de toda aquela dor e escuridão.

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O RIO ITANHÉM XVIII... No Final de 1968, na grande enchente que não perdoou ninguém; cinquenta mil doses de vacina se esgotaram sobre os municípios baianos de Medeiros Neto, Alcobaça e Itanhém. Não se encontravam informações pormenorizadas relativas à situação regional; tudo indicando que os prejuízos foram vultosos para aquele tempo de então; já que os rios Alcobaça e Itanhém foram a níveis muito superiores ao normal, em toda a região. Segundo mais informações sobre os flagelos conturbados; com estradas isoladas e destruídas plantações; a fome também perturbava o sono dos desabrigados; o que levou entidades a providenciar muitas doações. É digno de nota, na busca de afeto; a mobilização nacional para ajudar as cidades atingidas; mencionavam a situação caótica de Medeiros Neto; como alvo da campanha para as populações sofridas. Foi um desastre total que se abateu sobre a nossa rica região; todos, de alguma forma, estavam sucumbidos ante tanta desolação.

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O RIO ITANHÉM XIX... Em Dezembro de 1968, nos dias tais; quando da grande enchente nos rios de nossa região; os novos advogados da Faculdade Federal de Direito, em Minas Gerais; decidiram fazer uma campanha, por toda a nação; em favor das vítimas das enchentes nas cidades de Machacalis e Medeiros Neto e suas gentes. A razão da campanha, é que as populações estavam sem ajuda abrangente dos órgãos governamentais na região. A fome estava alastrada e ameaçava dizimar nas cidades, a população. Na Bahia, a maioria dos atingidos, vivia no campo a sua dor; e o extremo sul, em sua gravidade particular, ainda não tinha contato terrestre com a capital Salvador. Outro fato que chama atenção; é a vulnerabilidade dos municípios em suas infra-estrutura; a fragilidade dos pequenos agricultores ou pouseiros quando acuados pela fome e doenças de então; e, principalmente, do socorro governamental, não eficiente, diante de um acontecimento inesperado como aquele, como postura.

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O RIO ITANHÉM XX... Naqueles anos de 1960 por aqui; em nossa região; a realidade sofrida pelo pouseiro e pelo pequeno proprietário era assim: bastava um período de colheita ruim; ou porque choveu pouco, menos que o esperado e não molhou o chão; ou porque choveu demais, além do que se carecia, e encharcou o torrão; ou porque a seca veio braba, sem respeitar ninguém; ou outros motivos semelhantes, fora do esperado por alguém; para romper aquele equilíbrio tão precário entre as necessidades vitais da população e a quantidade de alimentos com sua produção. No povoado de Teixeira de Freitas, em particular, diante de tudo aquilo de então; não foram grandes os desastres pessoais, comparado aos tormentos sofridos ao nosso redor; mas foram expressivos os prejuízos materiais sofridos na ocasião. O que faz com que, até hoje, moradores relacionem a queda de pontes e acidentes fatais naqueles momentos, o que for pior; tudo culpa real daquela grande cheia de 1968.

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O RIO ITANHÉM XXI... A enchente do rio Itanhém, naquele sonha; em 1968, no fim daquele ano; atingiu algumas cidades do estado de Minas Gerais, no vale do Jequitinhonha; e alguns municípios do extremo sul baiano. Em Teixeira de Freitas, suas populações desamparadas; a cheia deixou diversas lamúrias parecidas; como, estradas bloqueadas; pontes e plantações destruídas. Hoje, é essencial que relatos sejam preservados; fatos de tudo que aconteceu; pelas gerações futuras acessados; para que se previnam e cresçam no que se sofreu. Bahia e Minas Gerais se confraternizaram na mesma dor, Teixeira e região se irmanaram no mesmo odor, no mesmo refrão, como se todos estivessem entrelaçados para viver e enfrentar o grande vilão. Foi o rio, junto com outros; pedindo passagem para o pesado golpe que a natureza lhe providenciava naquele então. Mesmo com menos prejuízos que nos abateram; todos nós sofremos com o que nossos conterrâneos, em outros cantos, sofreram.

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O RIO ITANHÉM XXII... A primeira ponte sobre o rio, nesta parte da nossa região; foi erguida na década de 1950, e precisou de muita disposição; erigida por Quincas Neto, da Fazenda Cascata, em parceria com o prefeito de Alcobaça; o muito amigo , Antônio Simplício de Barros, com grossa e forte madeira em mordaça. Depois de facilitar, em muito, por algum bom tempo, o acesso ao litoral; a ponte foi destruída no início da década de 1960, por uma forte enchente temporal. A ponte, naquele tempo, suportou, muito bem, a força da água; mas não a chamada Baronesa, camada de vegetação; que se acumulou sobre as bases de madeira, em anágua; não suportando, da força da corrente, toda a pressão. No lugar daquela ponte, uma segunda de concreto foi construída pelo DERBA; Departamento de Estradas e Rodagens da Bahia, o primeiro órgão público que o povoado Teixeira de Freitas tinha. Era assim que o rio estava sempre surpreendendo com o que dele corria.

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O RIO ITANHÉM XXIII... A segunda ponte, já em concreto, pelo Derba construída; teve destino igual ao da primeira, em madeira que fora destruída; teve a estrutura levada pelas águas do rio Itanhém em 1968; junto com a crença de que a modernidade e o conhecimento avançado dos engenheiros domariam a natureza selvagem do rio afoito. Por um bom tempo, o já precário tráfego em nossa região;. ficou totalmente prejudicado com aquele contratempo; forçando todos a buscarem a travessia pelo antigo canoão. Naquela enchente, em 68, afluída; o grande o volume da água não assustava os canoeiros a remar, pelo rio, acostumados; mas os carros dependentes da ponte destruída; a seguirem seus destinos, ficaram impossibilitados. Afim de amenizar os transtornos acumulados; uma balsa foi providenciada para fazer a travessia de pessoas e carros em traslados. Tempos demorou para que isto acontecesse, e tempos demorou para que isto mudasse, e à normalidade de uma ponte favorecesse.

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O RIO ITANHÉM XXIV... Da enchente do rio em 1968 por então; quando o mundo todo parecia que em água, ia se acabar, pelo menos para os moradores de nossa região; com todos os transtornos que os fazia chorar; os sofrimentos das famílias pelas cidades; principalmente o município de Medeiros Neto e seus abrangidos; somando as doenças e os desconfortos muito além das amenidades; a falta de socorro suficiente e a fome para muitos atingidos. Não pararam por ai, os estragos; os moradores ribeirinhos, que eram numa grande quantidade por toda a região; também sofreram com a avalanche de prejuízos, por todos, aguentado; tiveram que se deslocar das margens do rio e do seu pão; para os mais variados cantos possíveis e em condição de recebe-los naquelas asneiras; para não serem engolidos, e até mortos, pelo grande volume de água que vinha de surpresa das terras mineiras. Todos sofremos naquela ocasião; ninguém ficou de fora, ninguém pode ir embora, ficando imune de toda situação.

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O RIO ITANHÉM XXV... Em 1968, no final daquele trágico ano; Teixeira de Freitas saiu completa de todo seu cotidiano; a enchente exigiu o que o povoado não tinha; pois naquela proporção regional; inundou a estrada da “Prainha”; invadindo grandes espaços no matagal. Os moradores atingidos pelos estragos das emendas; foram obrigados a mudar para as partes mais altas das fazendas. Naquele ano, para todos, entristecido; pelas águas, não houve, no povoado, mortes ou algo parecido; o que se via era muitos animais boiando nas enxurradas; móveis e muita vegetação do rio, como Baronesas sendo arrastadas. Naquela época trabalhava-se na BR-101, na construção da ponte sobre o rio exagerado; estrada nacional que estava sendo construída e passava pelo grande povoado. No final daquele ano, a ponte já estava pela metade; e assim como aquela da Fazenda Cascata; foi destruída pela pressão da enchente em sua destruidora vontade. A tormenta transformou as terras divididas, perante as águas, em uma enorme sucata.

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O RIO ITANHÉM XXVI... Em 1968, no ano sofrido, daquela grande enchente; o rio inundou muitas e muitas roças ricas de cacau; também inundou, sem dó, outras agriculturas emergentes; deixando, aos proprietários, um enorme prejuízo mau. A destruição, na Cascata, da sua ponte pronta; e a meia ponte, na BR 101, em construção; bem como a destruição das muitas lavouras no afronta; não foram as grandes perdas observadas e lembradas, na ocasião: Uma Rural caiu no rio durante a travessia; quando feita na balsa daquele momento; ela não suportou o peso que o automóvel oferecia; e virou sem, aos passageiros, dar tempo. O triste acidente vivido no sarro; vitimou três crianças e uma mulher que viajavam no carro. A tragédia aconteceu no local onde havia a ponte da fazenda Cascata; e foi causado pela exagerada cheia do rio ondulante; pois assim que ponte ali, foi levada pela enchente caricata; providenciaram, de imediato, a balsa chamada, pelos populares, de “flutuante”.

Foto de Jônatas David Brandão Mota.

O RIO ITANHÉM XXVII... Em 1968, com a grande enchente marcando o ano; na enxurrada, era possível ver móveis diversos e animais mortos pelo rio, passando; foi a maior cheia que já se presenciou; foi a maior tortura que já se viu, por aqui, no que se articulou. Conta-se que uma pessoa foi puxado pelas águas por duas léguas, até que conseguiu agarrar em galhos dos matos e se salvou daquelas pregas. O acidente na balsa, com as mortes na Rural; deixou todo mundo assustado com o que soubera; era porque em registros, em situações semelhantes, natural; ninguém, na região, tinha o costume de ver aquelas coisas ou quem dera. Os desastres não foram maiores na ocasião; porque um helicóptero da Força Aérea Brasileira; passou voando baixinho sobre a situação; orientando, com auto-falantes, para os ribeirinhos saírem das margens rasteiras; porque muita água ainda estava por vir; porque muita catástrofe ainda estava por advir, com quem teimasse permanecer por ali.

Foto de Jônatas David Brandão Mota.

O RIO ITANHÉM XXVIII... Em 1968, em nossa história, naquela grande enchente; a tragédia das mortes na Rural que atravessava o rio, na Flutuante; repercutiu no povoado de Teixeira de Freitas, demasiadamente; pois vitimou três crianças que viajavam com o pai que escapou da situação frustrante. A febre tifoide que proliferou por causa da ingestão de água contaminada; ameaçou as cidades atingidas por toda a degradante enxurrada. Não houve aumento alarmante de casos de febre tifo, como seria normal; pois na vida da população ribeirinha, esta já fazia parte da rotina local. Mas, o grande problema assustador, foi o exagerado aumento da febre “sezão”; era assim, conhecida, a malária e suas consequências, o que foi novidade por esta nossa região. Os governos estaduais e federal se desdobraram para atender, também, esta dificuldade; usando, muito bem, os serviços da Força Aérea Brasileira nos deslocamentos necessários por todas as atingidas localidades.

Foto de Jônatas David Brandão Mota.

O RIO ITANHÉM XXIX... Nos anos anteriores a 1968, mesmo em falas precárias; em nossa região, sempre houve registros da febre tifóide e malária. As pessoas, normalmente, tratavam a tifo com Chá de Cipó Parreira e goma de Maria do sol; a malária, em si, só, era tratada com Chá de Quina Amarela, uma madeira de cor rosa ou amarela. Na lembrança de todos que conheceram tudo antes e depois do grande chuveiro profano; outras tragédias deixaram marcas, mas nenhuma se compara com a daquele ano. Para muitos, entre os religiosos e até entre os ateus; aquele tipo de castigo ocorre devido a desobediência do homem com as coisas de Deus; como foi o caso de uma provocada pelo deboche de um morador do Rancho Queimado; que colocou uma moeda de um mil Réis no caixão de um velho senhor que havia morrido prostrado. Tinha que ser castigo geral; pois todo mundo foi alcançado, ninguém ficou de fora; foi uma grande e poderosa intervenção divinal

Foto de Jônatas David Brandão Mota.

O RITO ITANHÉM XXX... Em 1969, depois da grande enchente; o medo e o pavor tomou conta da região; o susto passou a fazer parte do cotidiano da nossa gente, nas cidades, e ribeirinhos de então. Qualquer chuva, por menos prolongada que fosse, dava pavor ás populações; deixava todas as autoridades em sobre alerta; fazia com que todos se envolvessem na preocupação das povoações, sabendo que o mal que atingisse um, seria o mal que atingiria a todos, na certa. A catástrofe que abateu a história de nossa gente; foi suficiente para nos deixar mais envolvidos com a terra e mais; mais desejosos do bem para todos contentes; nos deixou mais irmãos, nos deixou mais humanos e fraternais. Depois daquele grande mar; ainda houve muita chuva; ainda houve muitos temporais a nos lembrar aquele momento de tristeza geral; mas nada se pode comparar com tudo aquilo que nos envolveu a todos, quando o céu caiu sobre a população de nossa terra natal.
Foto de Jônatas David Brandão Mota.

O RIO ITANHÉM XXXI... Em 1968, no final do ano, a enchente se foi, as águas baixaram, as tormentas brandaram, e a enchente se foi. Um grande e melancólico alento e alívio desceu sobre os medos de todos, um grande descanso de alma chegou a todas as famílias, a todas as gentes, a todos os todos. A região respirou aliviada, o sofrimento tomou outra enseada, e as populações voltaram aos seus cotidianos, o rio voltou a ser amigo encantado de todo mundo, como era antes dele sair do seu leito profundo, mostrando seu lado alegre e sustentável. As chuvas foram para o passado, as dores e sofrimentos foram afastados, e todo mundo voltou a ser feliz. Minas Gerais e Bahia voltaram aos seus perfis, as ajudas e socorros voltaram ao matiz, e as reconstruções voltaram aos procedimentos como se nada tivesse acontecido, como se nada daquilo tudo voltasse a acontecer aos apercebidos. A enchente foi embora, a vida voltou ao normal, o rio assumiu seu papel de sempre, o rio voltou ao seu natural. Outras enchentes aconteceram, como outras muitas, antes, aconteceram também, mas aquela foi somente ela, única, a enchente das enchentes que veio do aquém.